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Mortandade de abelhas por uso de agrotóxicos em Horizontina

Sexta-Feira, 25.08.2017 às 12h
25 DE AGOSTO- APICULTORES 1

Os apicultores horizontinenses Sadi Roberto de Araújo Motta e Elemar Pohl apresentaram com tristeza nesta semana seus apiários praticamente vazios com a perda de dezenas de colmeias nos últimos dois meses.


A morte das abelhas por inseticidas está preocupando os apicultores, especialmente porque a falta de conscientização de alguns produtores rurais que não atentos às fórmulas de suas aplicações para dessecação de áreas e tratamento de sementes, ou em alguns casos, também por desconhecimento, acabam aparentemente resolvendo o problema de suas plantações, mas gerando um custo irrecuperável ao meio ambiente.


A utilização de produtos a base de Neonicotinóides (Imidacloprid) usado para tratamento de semente, mas que produtores usam em pulverizações deixa resíduos no solo do tratamento até o ano seguinte.


Outro princípio o Fipronil (presente nas conhecidas marcas Klap, Standak) igualmente para tratamento de semente, quando usado em pulverizações deixa resíduo no pólen da soja, e quando a lavoura é formada por sementes tratadas com o mesmo, o resíduo é 2 vezes a dose necessária para matar uma abelha.


Conforme Motta, que também é Engenheiro Agrônomo esses inseticidas são proibidos na Europa, mas no Brasil, são 27 produtos com esses princípios ativos comercializados livremente. A época em que mais morrem abelhas tem sido no período pós-dessecação de lavouras para plantio de milho, mas é acentuada a mortandade também no final de ciclo da soja tardia.


O tema que preocupa os ambientalistas foi tratado havia de algumas semanas durante o 22º Seminário Estadual da Apicultura realizado em São Gabriel. Horizontina sediou este seminário no ano de 2003, quando estava em sua oitava edição.


As colmeias ficam cheias de abelhas mortas, lamenta Elemar Pohl que possuía mais de 90 colmeias e das quais restaram em torno de 20. Morreram 73 caixas, a partir do começo de julho, diz o apicultor que havia 25 anos trabalha com a atividade.


Os apicultores não descartam o registro policial, pois há um crime ambiental configurado, muito mais que econômico, no caso, de ficar sem o mel para comercializar.


Motta mostra estudos onde fica comprovado que enquanto as lavouras aumentaram em 78% sua produção o consumo de agrotóxicos cresceu mais de 700% no Brasil, entre os inseticidas, fungicidas e herbicidas utilizados.


Como evitar mortandades?
Os apicultores que conservam as suas propriedades de forma harmônica entre a produção de grãos e a preservação, dão dicas de como evitar a perda das abelhas e consequentemente a queda de produção nas plantas, já que ela é o principal inseto polinizador. Entre as medidas: Conservar ou manter áreas remanescentes de mato: Reserva Legal, APPs e Matas Ciliares, evitar as queimadas, uso racional de pesticidas e inseticidas, optando sempre pelos menos tóxicos.


Também que se aplique à tardinha ou à noite os produtos agrotóxicos onde a atividades das abelhas é menor. E quando essa aplicação for próxima às colmeias avisar os apicultores, e se possível fechar as caixas, 24 horas antes.


Importâncias das abelhas
Quando se fala em abelha o que a maioria lembra é de mel e ferroada. Motta e Pohl destacam que a abelha é o principal inseto polinizador; 81% dos polinizadores são abelhas; 75% das culturas dependem de polinização e no caso da soja – ocorre de 20 a 40% de aumento da produção quando tem abelhas, o que equivale a dizer que seriam 4,5 bilhões de dólares, ou 450 milhões de toneladas a mais de grãos no ano agrícola.


Canola cultivada próximo a colmeias produz até 50% a mais


Um estudo feito havia pouco tempo em lavouras de Canola na região de Guarani das Missões e de Três de Maio apresentou resultados incontestáveis quanto à presença positiva de abelhas na cultura. No caso de Três de Maio ás áreas polinizadas registraram diferença de 70% na produção se comparadas os pontos da lavoura mais próximos de matas com colmeias e pontos mais distantes do cultivo a campo longe de mata. A produção foi no espaço de até 25 metros próximo as matas com colmeias de 55 sacas por ha, 30 a 40 sacas nas partes distantes até 175 metros e pouco mais de 20 sacas por hectare quando a lavoura ficava 325 metros distantes das matas e das abelhas.


A canola (colza melhorada) é o 3° grão em produção de óleo no mundo. Sua produtividade média no Brasil é 1.381 kg/há e nos Estados Unidos 3.070 quilos por hectare. A diferença gritante se dá justamente pela falta de polinização. A flor da Canola permanece aberta entre 12 e 96 horas, é neste espaço precisa ser polinizada por insetos o que garante sua maior produção.


Estudos do Chile indicam que um hectare de Canola com até seis colmeias próximas teve 50% de aumento de produção comparado ao plantio longe delas. Com uma colmeia por hectare a produção na Austrália teve variação entre 18 e 20% a maior.


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